Algumas Ideias de São João da Cruz

Nove ideias de São João da Cruz 

  1. A Meta Suprema é a União Transformante com Deus (O Caminho Estreito para a Vida): A


    doutrina de São João da Cruz convida a alma a dispor-se para a vida mística, concebida como a "união de amor com Deus". A perfeição dessa vida é a "união transformante", onde a vontade da alma se torna, pelo amor, uma só com a vontade de Deus: "duas vontades num só e mesmo amor". Essa união é o "caminho estreito que conduz à Vida" e é a culminância da santidade e perfeição cristã.

  2. O Ascetismo Implacável e a Renúncia Absoluta (O "Nada" para Chegar ao "Tudo"): O Santo ensina que o caminho para a união divina exige uma renúncia absoluta. Sua frase célebre, "Nada, nada, nada, até deixar a própria pele e o resto, por Cristo", resume este ascetismo. No entanto, esse "negativismo" não é um aniquilamento do eu, mas o "avêsso de um processo eminentemente positivo" de "concentrar tôda a energia psíquica em Deus". A finalidade da negação é "pelo nada chegar ao Tudo", desapegando a vontade de tudo o que é criado para que o coração não se afaste de Deus.

  3. As Duas Noites de Purificação: Ativa e Passiva: A alma deve passar por duas "espécies principais de "noites" ou "purificações da alma". A primeira noite é a dos sentidos (purificação ativa), que se realiza na região sensitiva da alma e é fruto da iniciativa humana para mortificar os apetites. A segunda noite é a do espírito (purificação passiva), que visa as faculdades espirituais e é operada por Deus na alma. Estas "Noites" trazem sofrimento, semelhante ao Purgatório, mas são indispensáveis para a alma ser purificada e disposta para a união divina.

  4. A Purificação das Potências da Alma pelas Virtudes Teologais: A preparação ascética para a vida mística implica o "exercício constante, puro, heróico até, das 3 virtudes teologais".

    • A purifica a inteligência/entendimento, despindo-a de pensamentos que não são puramente Deus, para elevá-la às coisas divinas.
    • A Esperança esvazia a memória de lembranças terrenas para que possa ser preenchida com notícias divinas.
    • A Caridade desprende a vontade de qualquer apego, permitindo que seja livremente movida pelo amor divino.
  5. A Fé como "Noite Escura" e Guia Segura: A fé é "uma noite escura para a alma nesta vida". Paradoxalmente, a fé "cegando dá luz", e quanto mais obscurece o entendimento de suas próprias luzes naturais, mais luz irradia. Para progredir com segurança, a alma deve "permanecer em trevas", "cegando-se em suas potências" para ver a luz sobrenatural e confiar unicamente na "pura fé, sua verdadeira guia".

  6. A Rejeição de Graças e Experiências Sensíveis Extraordinárias: São João da Cruz desaconselha o apego à "religião gozadora", à devoção sensível e, sobretudo, às "graças extraordinárias" como visões e revelações. Ele afirma que a alma não deve admitir nem desejar essas visões ou apreensões sobrenaturais, mesmo que venham de Deus, pois podem ser um grande perigo e impedimento para a fé pura e para a união divina, além de expor a alma a enganos e presunção.

  7. A Importância Crucial da Direção Humana e da Humildade: Deus "gosta tanto de ver o homem governado e dirigido por outro homem seu semelhante, regido e guiado pela razão natural". As comunicações sobrenaturais não devem ser cridas ou confirmadas com segurança "senão quando hajam passado por êste canal humano da bôca do homem". Os diretores espirituais devem guiar as almas na fé e no desapego, enfatizando que um "ato da vontade feito em caridade" é mais precioso aos olhos de Deus do que todas as visões ou revelações celestes.

  8. A Transformação das Potências da Alma pela Graça Divina: Na união transformante, a alma é "movida por Deus", e suas operações se tornam divinas. Sua inteligência é "inteligência de Deus, sua memória é memória de Deus, sua vontade, vontade de Deus". O Espírito Santo ilumina as almas, fazendo-as "saber tudo" à medida que se "exercitam em nada saber ou conhecer pelas potências".

  9. A Inefabilidade do Amor Místico e da Experiência Divina: As obras de São João da Cruz, como o "Cântico Espiritual", descrevem o "exercício de amor entre a alma e o Espôso Cristo" por meio de figuras e comparações. Contudo, a experiência mística é "inefável" e "excede tôda palavra". Na "Chama Viva de Amor", a alma, já purificada, experimenta a "chama que doravante arde nela – o Deus de amor – só lhe traz luz, glória, delícias", numa antecipação da visão de Deus, mas essa experiência permanece além da plena expressão verbal.

Comentários

Lançamento